domingo, 31 de janeiro de 2010

CONTROL (2007)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Control
Realização
: Anton Corbijn

Principais Actores: Sam Riley, Samantha Morton, Joe Anderson, James Anthony Pearson, Harry Treadaway, Alexandra Maria Lara, Craig Parkinson

Crítica:

Is it everything worthless in the end?

Em Control, o biopic de estrelas de rock encontra a dimensão humana e poética, talvez um pouco como em Last Days - Últimos Dias, de Gus van Sant, mas aqui com a sublimação do fotograma e com uma abordagem melodramática. Sem controlo da existência, da sua própria existência, o jovem Ian Curtis vê a luta entre o coração e a consciência, cada vez mais intensa e sufocante, levá-lo longe demais. E o inspirado filme de Anton Corbijn, ele próprio fotógrafo dos Joy Division (e que assina aqui a sua primeira longa metragem), dá-nos conta desse assustador marasmo - mais do que dramático, profundamente desencantado e melancólico. Love will tear us apart, já dizia a canção... e tinha razão.

Perdido entre a mulher, a amante e o desmoronar da sua vida pessoal, Ian encontra em si, afinal, o eco das palavras de Eliot, lidas por Marlon Brando em Apocalypse Now. Sam Riley interpreta o papel do mítico vocalista dos Joy Division, de tão conturbada passagem entre nós, com assaz competência e verossimilhança. A nível do elenco há ainda por destacar, inevitavelmente, Samantha Morton e Alexandra Maria Lara. Revelam-se, ambas, excelentes escolhas de casting. Tecnicamente, o trabalho de mise-en-scène é notável e contribui decisivamente para o prodígio e assombro da fotografia de Martin Ruhe. Afinal, não há frame que não capte todo o esplendor e beleza de tão magnífica e artística recriação a preto e branco. A realização, não sendo nunca extraordinária, jamais compromete a qualidade ambicionada e claramente alcançada pela obra. Aliás, não tem defeito que se lhe aponte.

Control constitui, por si só, um brilhante exemplo de como fugir à convencionalidade de um biopic... e fazer arte em movimento. E é esse o mérito maior de Anton Corbijn, independentemente de agradar ou não aos fãs da banda. Is it everything worthless in the end? Os próprios fãs, um pouco por todo o mundo e melhor do que ninguém, saberão por certo a resposta.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O BOM, O MAU E O VILÃO (1966)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo / The Good, The Bad and The Ugly
Realização: Sergio Leone
Principais Actores: Clint Eastwood, Eli Wallach, Lee Van Cleef, Aldo Giuffré

Crítica:

TRÊS HOMENS EM CONFLITO

Haverá western mais cómico - e ao mesmo tempo tão belo - do que este O Bom, O Mau e O Vilão? Não haverá, certamente. Abrem os créditos iniciais e a paródia arromba pela obra de arte adentro. Aparece Tuco (Eli Wallach), o Vilão, certeiro na pontaria e na patifaria, mas de meio-coração. Brilha, noutras paradas, o olhar matador de Sentenza (Lee Van Cleef), o Mau, tão irónico no sorriso como na alcunha (Angel Eyes). E a completar o trio de ataque temos o misterioso Blondie de poucas palavras (Clint Eastwood), o Bom. Todavia, não são os típicos protagonistas estereotipados, de carácter cerrado. Afinal, estamos num western de Leone. Há uma reformulação do cânone e os perfis das personagens encontram a imprevisibilidade na sua ambiguidade.

De bandidos em fuga a prisioneiros de guerra, de rivais egoístas a companheiros inseparáveis, Tuco e Blondie correm o faroeste em busca de fortuna, perseguem o rastilho de um boato longínquo, enfrentam - até - as trincheiras de uma guerra que mancha a terra de sangue e alcóol, atrás de um cemitério de esperança, de uma campa sem nome. Sempre irremediavelmente deslocados da realidade e absolutamente absorvidos pelos seus propósitos-banhados-a-ouro. Parece hilariante? Não tem como não o ser. Tudo resulta na perfeição, neste clássico intemporal: a direcção artística (Carlo Leva, Carlo Simi e Tani) é sublime, a fotografia (Tonino Delli Colli) é de uma beleza extasiante e a banda sonora (Ennio Morricone) soa e ressoa, brilhante e genial, até ao fim, e muito para além dele, ou não se tivesse ela tornado, até aos dias de hoje, um autêntico ícone do western. Sergio Leone, magistral da mais radiosa panorâmica ao mais arriscado dos close-ups, não só vence como triunfa sob a sua visão ambiciosa, original e profundamente inspirada. Alguém se esquecerá daquela cena magnífica em que Tuco é brutalmente espancado pelo sadismo do Mau, ao som da mais contrastante e surpreendente banda sonora? Para não falar do desfecho: na minha opinião, a melhor cena da obra, tão operático.

Veredicto? Imperdível, por tudo isto e tanto, tanto mais. Um dos melhores filmes de sempre.


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Nota especial para a infeliz escolha do título português.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

GRAN TORINO (2008)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Gran Torino
Realização: Clint Eastwood
Principais Actores: Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Brian Haley, Geraldine Hughes, John Carroll Lynch

Crítica:

ATÉ SEMPRE
!

Não é fácil envelhecer. Dentro da nossa casa, da nossa garagem e da nossa memória, o mundo que conhecemos é mais ou menos preservado, ao longo dos anos. Reconhecemo-lo como nosso. Porém, do nosso relvado em diante, nas casas vizinhas, pela rua fora... podemos ver que a realidade muda. Com o tempo, os nossos filhos crescem e partem. Constituem família e vivem a felicidade deles. Com o tempo, os nossos amigos e vizinhos despedem-se. E nunca mais regressam. Com o tempo, até a nossa cara-metade nos diz adeus e ficamos a sós com a memória, na mesma casa, com a mesma garagem.

No seio da sua residência, Walt Kowalski permanece o mesmo Walt, fiel aos costumes e valores do seu mundo. Todavia, aos olhos da nova realidade exterior, é um velho xenófobo e conservador. Veterano da guerra da Coreia, vê todo o seu bairro actualmente habitado por Hmongs, de preceitos estranhos. Ou chinocas, como lhes chama. Vê uma nova geração desenraizada, alheia ao patriotismo, uma juventude egoísta, que afaga na violência a sua inutilidade cívica. Os filhos e netos estabelecem com ele uma relação de interesses: falhada uma relação familiar, esperam pela casa, pelo carro... A Walt resta-lhe o prazer de se sentar no alpendre, a beber uma cerveja bem fresquinha e a fumar o seu cigarro, na companhia de Daisy (a cadela), e o orgulho de guardar como novo o seu resplandecente e cobiçado Gran Torino de 1972. Sabe-se doente. Espera em silêncio pelos últimos dias.

Gran Torino é pois, todo ele, uma despedida, triste e magistral. Sobre vida e sobre morte. Um adeus de Walt, de Frankie, de Bill e de todos os cowboys, de toda uma geração. Clint Eastwood arranca de si mesmo a melhor performance de toda a sua carreira enquanto actor. Continua um justiceiro; por vezes ainda tende a fazer justiça com as próprias mãos, em defesa dos inocentes. Mas, no derradeiro final, o tiro não é mais do que um gesto, que uma simulação. A sabedoria leva-nos à morte por outro caminho... e por meio dele podemos atingir o perdão.

Brilhante na realização, nas contenção e sobriedade características da sua arte de filmar, Clint Eastwood concebe e concretiza mais um clássico, um poderosíssimo drama de viscerais emoções. E até canta... Apetece dizer-lhe adeus. Mas, na arte, o seu valor é inestimável e eterno. Por isso, até sempre!

CARTAS DE IWO JIMA (2006)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Letters From Iwo Jima
Realização: Clint Eastwood
Principais Actores: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Shido Nakamura, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase, Yuki Matsuzaki, Hiroshi Watanabe, Takumi Bando, Nobumasa Sakagami, Takashi Yamaguchi, Nae Yuuki

Crítica:

O OUTRO LADO DA GUERRA,
O MESMO LADO DA ALMA

Cartas de Iwo Jima em nada fica a dever à mestria de outros grandes filmes de guerra. Está genuinamente bem feito. E subtilmente inspirado. A realização de Clint Eastwood é de uma sensibilidade extrema, elevando cada passagem do argumento a um estatuto tocante, reflexivo e simultaneamente sublime. A sua estética suporta-se no silêncio ou nos sons que o perturbam (saliente-se a excelente qualidade dos efeitos sonoros). A banda sonora, quando se ouve, funciona mais como agente reflexivo do que como agente emotivo. A emoção, essa, constrói-se essencialmente à base da palavra e do silêncio. A fotografia, que confere uma beleza magistral ao filme, sobrevive, contudo, mais da saturação cromática do que do enquadramento artístico da câmera. Ken Watanabe e Kazunari Ninomiya estão perfeitos nos seus papéis.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MATCH POINT (2005)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Match Point
Realização
: Woody Allen

Principais Actores: Jonathan Rhys-Meyers, Scarlett Johansson, Emily Mortimer, Matthew Goode, Brian Cox, Penelope Wilton, Miranda Raison, James Nesbitt, Alexander Armstrong, Paul Kaye, Rupert Penry-Jones, Rose Keegan

Crítica:

CRIME SEM CASTIGO?

There are moments in a match when the ball hits the top of the net,
and for a split second, it can either go forward or fall back.

O acaso escreve o destino. Se há filme que fundamenta exemplarmente essa máxima é este brilhante Match Point, assente num exercício de escrita verdadeiramente prodigioso. Fosse Woody Allen tão extraordinário realizador quanto o é argumentista e Match Point resplandeceria, muito provavelmente, com o fulgor inequívoco de uma incontornável obra-prima.

Falemos do elenco: as escolhas de Jonathan Rhys-Meyers e Scarlett Johansson para protagonistas não podiam, quanto a mim, ser mais acertadas. São ambos extremamente charmosos, de uma beleza tão sedutora quanto inebriante, tal é a química dos seus olhares. Estão os dois em cena, magistralmente dirigidos por Allen, e há desejo. Sentimo-lo perfeitamente. Todavia, em cena há também uma outra mulher. E se pela primeira há paixão e desejo carnal, pela segunda há fascínio pelo seu estilo de vida e pelas possibilidades do seu mundo (estabilidade, segurança, prestígio social e dinheiro). Chris - a personagem de Rhys-Meyers - vive, pois, um dilema, que se intensifica cada vez mais: tem que optar por uma delas, mas não consegue. Aqui não há, pois, romantismo. Há um ser humano como todos os outros: com as suas fraquezas e tentações... E que fraquezas. E que tentações. Cair em tamanho marasmo é como viver uma ilusão para si mesmo e uma cruel hipocrisia para tantos quantos estão à sua volta. Cada dia sem enfrentar a verdade é como um passo em falso e em crescendo para a tragédia. Repentinamente, transfiguramo-nos pelo medo e somos capazes das piores atrocidades. Se nesse momento ao espelho nos reflectirmos, não nos reconheceremos. Empurramo-nos para o precipício e não há como voltar atrás. Não será esse o match point, mas sim um ponto sem retorno. Se Édipo não furar então os olhos, é puro golpe de sorte. E a sorte existe, nós sabemos.

O que também existe - sempre - é castigo para qualquer que seja o crime. O twist da obra pode evitá-lo aos olhos de todos, mas a pior punição é a que nos corrói a alma. Caia a bola para que lado da rede cair, o remorso e o arrependimento são a pena capital. Errar é humano. Mas não cegar a consciência nem por sombras é condão divino. Grande filme.

With a little luck, it goes forward, and you win.  
Or maybe it doesn't, and you lose.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

10 Breves Perguntas (4)

Cláudia Gameiro, a autora do blogue Considerações, aceitou o convite do CINEROAD para responder a mais um questionário desta 2ª Edição do 10 Breves Perguntas.
Eis as respostas:

1. O Melhor Filme desde 2000: The Fountain
2. A Banda-Sonora da Minha Vida:
Miami Vice / My Names is Nobody
3. Um Amor de Infância: Sound of Music
4. Um Filme de Animação: The Little Mermaid
5. Uma Comédia: When Harry Met Sally
6. Filme-Fenómeno cujo Mediatismo não compreendo:
High School Musical

7. Tantos detestam. Eu adoro: Heaven
8. Um elenco: Hero
9. A Melhor Fotografia que conheço: The New World
10. Já mudei de ideias sobre este filme: The Hours

Um muito obrigado, Cláudia Gameiro.
Pelas respostas e pelas visitas e participações diárias.

Compare as respostas dadas por todos os convidados até ao momento: AQUI

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

JUNO (2007)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Juno
Realização
: Jason Reitman

Principais Actores: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, Allison Janney

Crítica:

GRÁVIDA POR DESCUIDO

Em Juno, a gravidez e a sexualidade na adolescência são o alvo da sátira. Enquanto ensaio, forma que às tantas e indirectamente a obra parece assumir, o filme de Jason Reitman lança questões pertinentes. Que preparação tem, efectivamente, uma jovem de 16 anos para ser mãe dadas as circunstâncias e a sua experiência de vida? Qual a importância do enquadramento familiar no acompanhamento de uma jovem mãe? Aborto? Adopção? O que é ser mãe? O que é ser pai?

Enfim... O filme prima pela consistência narrativa, fluída em diálogos inteligentes, pelo muito bom humor e pelo registo ligeiro que as canções proporcionam. Ellen Page, essa, brilha numa performance extraordinária. A sua Juno é uma jovem irreverente, emancipada e perspicaz. Não se identificando propriamente com nenhum estereótipo da sua faixa etária, não passa ainda assim de uma adolescente. A sua maturidade (ou a falta dela) revela-se ao longo da trama e com os cursos que ela assume.

O genérico inicial e as letras animadas dão estilo e graça à obra, mas não substância. E falando em substância, Juno é o argumento, as canções, a boa disposição e sobretudo Ellen Page. O resto é pouco mais do que encanto; que vale o que vale, evidentemente.

TRUMAN SHOW - A VIDA EM DIRECTO, THE (1998)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: The Truman Show
Realização
: Peter Weir

Principais Actores: Jim Carrey, Laura Linney, Ed Harris, Noah Emmerich, Natascha McElhone, Philip Baker Hall, Paul Giamatti, Peter Krause

Crítica:

O CÉU É O LIMITE


The whole world is watching.

A profecia de The Truman Show cumpriu-se. O inimaginável, a não ser nos contornos da ficção, aconteceu. E aconteceu tão rapidamente... Nessa medida, o irresistível e original conceito do argumento de Andrew Niccol (Gattaca) foi revolucionário, uma vez que possibilitou uma das maiores e mais profundas alterações na forma de fazer e ver televisão. Aconteceu tão rapidamente que nem se reflectiu o suficiente para medir os limites e as implicações éticas de tamanha experiência. A ideia era nova e havia todo um novo e sedutor terreno por pisar. E isso é que interessava. How's it going to end?

A realidade acabou por justificar a ambição de Christof (brilhante Ed Harris). À luz dos factos, compreendemos a sua aventura empreendedora, apesar de questionarmos com a devida legitimidade o seu direito de simular Deus. Participámos do fenómeno, com mais ou menos consciência, com mais ou menos envolvência, assim como aqueles milhões de espectadores, ao longo de trinta anos, seguiram as emissões diárias de The Truman Show, 24 sobre 24 horas. É importante que se diga: as proporções de um Big Brother ou de todo e qualquer um dos seus variantes nunca tomou as proporções bíblicas de The Truman Show, felizmente. Não obstante, é importante comparar os dois fenómenos. E não é cair no mero facilitismo de explicação e falar menos de cinema ou do filme em questão. É, porventura, a melhor forma para entender a dimensão, o impacto e as repercussões filosóficas da Reality TV, que nasceu ficcionalmente com esta obra e que depois dela existiu realmente.

We've become bored with watching actors give us phony emotions. We are tired of pyrotechnics and special effects. While the world he inhabits is, in some respects, counterfeit, there's nothing fake about Truman himself. No scripts, no cue cards. It isn't always Shakespeare, but it's genuine. It's a life.

Cada vez mais, as pessoas vivem no interior do seu casulo, na sua individualidade. Têm vizinhos, mas não os conhecem. A comunicação essencial à nossa existência faz-se, de forma crescente, pelos media. E, talvez por isso, a imediatez do consumo televisivo tem sede de identificação. Identificação entre o telespectador e os seus pares dentro da caixa mágica que mudou o mundo. Essa identificação, por sua vez, tem outra intensidade se assistirmos à vida real. Nesse caso, a comunicação é mais verdadeira e as nossas emoções são vividas à flôr da pele. Somos levados a crer que conhecemos aquelas pessoas. Assistimos a toda a sua vida, partilhamos todos os seus instantes, na nossa própria casa. Para não falar da janela aberta para o voyeurismo. Eis o que explica o sucesso tremendo dos reality shows.

Ter consciência que se é concorrente de um programa deste género, todavia, é a principal diferença que se estabelece com Truman Burbank. Truman não sabe que é a estrela de uma ambiciosa experiência televisiva, não sabe que toda a sua realidade é simulada e ficcionada. Vive uma ilusão, por imposição. Sem liberdade de escolha e sem qualquer hipótese para qualquer liberdade para além das pré-determinadas pela produção do programa. Diz-se, muitas vezes, cada um sabe de si e Deus sabe de todos. Independetemente de crermos ou não em Deus, compreendemos a ideia. A expressão é simples e acaba por resumir toda a liberdade existencial de um indivíduo, de cada ser humano. Ora, nós sabemo-lo: Truman jamais poderá proferir tamanha afirmação... Toda a gente sabe dele. Porque toda a gente que veja o programa vê pelos olhos do Criador, de Deus. Não há privacidade para Truman. Há apenas a emoção e a satisfação de brincar a uma experiência de Pavlov, esperando para ver como o nosso cãozinho vai reagir aos estímulos. Truman é um cão.

Contudo, esta experiência meio-capitalista (note-se a máquina publicitária frequentemente accionada pela performance de Laura Linney) meio-behaviorista tem, é claro, os seus limites. Truman é um cão com inteligência. You never had a camera in my head! É certo que se limita a aceitar a realidade do mundo em que vive sem a pôr em causa, mas a curiosidade é o principal impulsionador para a descoberta da verdade e, por isso, haverá um dia em que a mentira começará a ruir. Neste caso, o céu é, literalmente, o limite. E atingi-lo é por demais simbólico e carregado de significado.

Jim Carrey tem uma prestação sublime, que lhe redefiniu a carreira. De resto, fotografia e banda sonora aliam-se magistralmente com a subtil e inspirada realização de Peter Weir. O resultado é um filme muito, muito interessante, capaz de suscitar as mais pertinentes questões sobre a existência humana.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

10 Breves Perguntas (3)

Continua a 2ª Edição do 10 Breves Perguntas.

Desta vez... Marta Teixeira ou Gema, autora do blogue Os Filmes da Gema, aceitou o convite do CINEROAD para responder a 10 breves questões com 10 breves respostas.

1. O Melhor Filme desde 2000:
Le Fabuleux Destin d'Amelie Poulain (2001)
2. A Banda-Sonora da Minha Vida:
Le Fabueleux Destin d'Amelie Poulain (2001)
3. Um Amor de Infância: E.T. - The Extraterrestrial (1982)
4. Um Filme de Animação: The Little Mermaid (1989)
5. Uma Comédia: European Vacation (1985)
6. Filme-Fenómeno cujo Mediatismo não compreendo:
Star Wars (saga)

7. Tantos detestam. Eu adoro: The DaVinci Code (2006)
8. Um elenco: Magnolia (1999)
9. A Melhor Fotografia que conheço:
The Last Samurai (2003) e Un Long Dimanche de Fiançailles (2004)

10. Já mudei de ideias sobre este filme:
The Lord of the Rings (trilogia)


Um muito obrigado, Marta Teixeira.

Compare as respostas dadas por todos os convidados até ao momento: AQUI

As mesmas 10 questões serão respondidas por um novo convidado especial. Até lá!

SWEENEY TODD - O TERRÍVEL BARBEIRO DE FLEET STREET (2007)

QUEM TRAMOU ROGER RABBIT? (1988)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Who Framed Roger Rabbit?
Realização
: Robert Zemeckis

Principais Actores: Bob Hoskins, Christopher Lloyd, Joanna Cassidy, Frank Sinatra

Crítica:

O REAL ANIMADO

Hey, I seen a rabbit.

A vida pode ser uma animação. Ou, pelo menos, vida e animação podem dar as mãos para o triunfo absoluto de uma obra soberba. Em Quem Tramou Roger Rabbit?, Robert Zemeckis consegue essa difícil e árdua tarefa: a perfeita interacção entre desenho animado e actores em live-action. O resultado é surpreendente. Tudo graças ao espírito criativo de toda uma equipa e aos maravilhosos efeitos especiais da Industrial Light & Magic. De certa forma, Quem Tramou Roger Rabbit? pôe-nos a pensar no fenómeno evolutivo dos efeitos especiais no seio da indústria cinematográfica e em todas as suas novas possibilidades (o que seria de Mary Poppins a esse nível, vinte anos depois...). E, pensando bem, vemos hoje a influência de obras como esta dentro do meio audiovisual, não vemos?

Quem Tramou Roger Rabbit? é, todavia, muito mais do que uma experiência tecnicamente vencedora. É um regresso ao noir num argumento intricado, cheio de mistério e de suspense, é uma aventura divertidíssima repleta de humor e de gargalhadas genuínas (outras tipicamente cartoonescas) e é, também, uma homenagem às personagens animadas que eternamente farão parte da nossa vida: o Rato Mickey, o Pateta, o Pato Donald, o Dumbo, o Pinóquio, a Branca de Neve, os Três Porquinhos e o Lobo Mau e tantas outras... todas elas se (re)encontram nesta fantástica obra. Haverá homenagem maior ao cinema de animação?

Se há cena que se tornou mítica na História do Cinema recente é a da sensual aparição de Jessica Rabbit. Que personagem... que ícone. A banda sonora desempenha também um papel fundamental na criação do ambiente. Assim como a direcção artística. E Bob Hoskins, não sendo nunca extraordinário, não tem defeito que se lhe aponte. Enfim... um clássico. Puro Hollywood.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O MEU TIO (1958)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Mon Oncle
Realização: Jacques Tati

Principais Actores: Jacques Tati, Jean-Pierre Zola, Adrienne Servantie, Alain Becourt, Lucien Fregis, Dominique Marie

Crítica:

ENTRE DOIS MUNDOS

Quando assistimos, hoje, a um filme como O Meu Tio, de 1958, e nos deparamos com uma obra, possivelmente, mais actual do que nunca, começamos a pensar naqueles filmes que, pelas suas qualidades e méritos próprios, se impõem - em qualquer que seja o espaço e em qualquer que seja o tempo - como verdadeiros clássicos absolutos.

Esta brilhante comédia de Jacques Tati não é senão uma genuína paródia de costumes, de alto teor satírico, onde aquilo que se poupa em palavras, se transcende em imagens: há uma exploração das possibilidades do cómico de situação pela oposição cíclica e sistemática de dois universos que coexistem, paralelos, numa só cidade, onde o limiar de diferenciação é bem definido pela pobreza vs. riqueza, degradação vs. sofisticação, relações humanas e autênticas vs. convivências superficiais e sem coração. Aqueles cãezinhos que, ao som daquela já icónica banda sonora, vagueiam pela cidade, abrem e fecham a obra, de forma circular, dando conta de que as assimetrias continuarão sempre a existir.

De um lado, temos um sector de muito suor e trabalho, que vive com dificuldades e tenta, a custo, assegurar o sustento e a renda de uma casa já por si repartida entre tantas famílias. Note-se o caso do Sr. Hulot, que vive no último andar daquele casario de aspecto envelhecido e decadente. Do outro lado, há toda uma classe alta que nas mesmas ruas em que uns andam de carro-de-besta acelera os seus luminosos automóveis de nova geração. O casal Arpel, por exemplo, habita a zona rica da cidade, numa casa extremamente limpa e extremamente arrumada, armada de tecnologia e automatismos (portão, portas e janelas, vira-hambúrgueres, lava-loiça, lava-roupa, sistema de ventilação, sistema de esterelização, o repuxo do jardim, etc.), com um design e uma arquitectura vanguardista e toda uma ambiência tão exageradamente moderna e tão excessivamente high-tech que, no fim de contas, mais parece um embrulho bonito, mas despersonalizado, que esconde na aparência um profundo sentimento de desconforto e vazio e jamais priveligia a conversa e o calor humano. Não será por acaso que o filho do casal, o pequeno Gerard, prefere a companhia do tio Hulot (irmão da mãe, mas do lado humilde da família) do que a futilidade do meio em que vive. Porque, ao fim e ao cabo, Gerard não experimenta novas sensações, que o façam sentir-se vivo, divertir-se e ganhar a experiência necessária para o enriquecimento pessoal. Passa os seus dias, isso sim, confinado ao aborrecimento, à inércia e à mais profunda inexistência. Até que ponto não conduzirá o progresso tecnológico desmedido, o capitalismo desenfreado e a sociedade de consumo à desumanização? É esta a crítica traçada pelo filme de Tati e a reflexão por ele suscitada. Tati serve-se do tio Hulot (personagem por si próprio interpretada) para provocar o caos na artificiosa ordem dos Arpel, de modo a confrontá-los com a disfuncionalidade e com o ridículo de todo aquele mundo de plástico e metal. Gerard vê na atitude do tio uma atracção irresistível. E enquanto gozam com aqueles adultos pomposos mas vazios, os espectadores têm a oportunidade de rir com o desvario caricato e hilariante de todas aquelas situações.

Jaques Tati concretiza, de forma sublime, uma obra de grande ousadia estética, rica em detalhes e apurada em todos eles. Revela-se mestre na arte de filmar, excepcional na pantomima, num cinema único e digno de referência. Grande filme.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

FORREST GUMP (1994)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Forrest Gump
Realização
: Robert Zemeckis

Principais Actores: Tom Hanks, Robin Wright, Gary Sinise, Mykelti Williamson, Sally Field, Michael Conner Humphreys

Crítica:


O CONTADOR DE HISTÓRIAS


Life was like a box of chocolates.
You never know what you're gonna get.

It's an epic of human proportions*, disse Tom Hanks. Dou-lhe razão. Se há magia em Forrest Gump é a magia de contar com mestria e simplicidade uma vida de extraordinárias façanhas, apesar das limitações físicas, do baixo QI e da inocência e da singularidade do carácter do protagonista. Pelo destino, nasce um falhado. Pelo acaso, possibilita-se um herói. I don't know if we each have a destiny, or if we're all just floating around accidental-like on a breeze, but I, I think maybe it's both. Maybe both is happening at the same time. Forrest Gump é, pois, por hipotética acção dos dois agentes, um provável anti-herói e o mais improvável herói para esta emocinante, ternurenta e inspiradora demanda, sempre suscitada pelo acidente e pelo sentimento.

O argumento de Eric Roth é magnífico: muito bem escrito e muito bem construído. A narração flui que nem a pena ao sabor do vento: natural e subtil; e assim se mantém nos flashbacks. Há um salutar misto de géneros: drama, romance, guerra, comédia, sátira... refira-se, a propósito, as aparições de Hanks em metragem de arquivo histórico, ao lado de John F. Kennedy, George Wallace, Cavett, Ford ou de John Lennon, que se revelam puramente hilariantes! Assim como a inclusão de Elvis Presley na diegese ficcional do filme, mais uma vez desprovida de pretensões e absolutamente de génio! A fotografia de Don Burgess serve, de forma exímia, tanto os propósitos dramatúrgicos como a função de postal ilustrado dos E.U.A.: ao mundo dá a conhecer as mais belas paisagens e os mais importantes monumentos daquele país de sonhos e agora ferido pela humilhação e pela derrota no Vietname.

A banda sonora imortaliza o clássico. Tanto nas magistrais composições de Alan Silvestri como no interminável e carismático compêndio de canções. E é claro: a interpretação de Tom Hanks é memorável, profunda e arrebatadora. Tom Hanks é Forrest Gump. E está tudo dito. O restante elenco traz-nos também excelentes desempenhos: Robin Wright como a irreverente Jenny (incondicional e eterno amor de Forrest: Me and Jenny goes together like peas and carrots) ou Sally Field como sua mãe (Mama always had a way of explaining things so I could understand them, como: stupid is as stupid does), os pilares existenciais ao longo de toda a sua vida, as suas únicas crenças para além de Deus. Também Gary Sinise dá corpo e alma ao rude e arrogante Tenente Dan Taylor e fá-lo magnificamente; faça-se a devida menção.

Com Forrest Gump, pois, a diferença triunfa, a bondade vale a pena e o amor é a razão da vida. Eis a maior lição de vida de todas, filmada com elegância, rara graciosidade e apurado requinte. Em toda a sua simplicidade poética, Robert Zemeckis conseguiu um feito - esse sim - extraordinário: um grande, autêntico e apaixonado pedaço de cinema. E, por isso, o aplauso far-se-á para sempre.


______________________________
*Tom Hanks, no Making Of da Edição de Coleccionador, em DVD.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DARJEELING LIMITED (2007)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Darjeeling Limited
Realização
: Wes Anderson

Principais Actores: Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Amara Karan, Wallace Wolodarsky, Waris Ahluwalia, Irfan Khan, Barbet Schroeder, Camilla Rutherford, Bill Murray, Anjelica Huston, Natalie Portman

Crítica:

ENTRE IRMÃOS:
UMA VIAGEM ESPIRITUAL DE RE-DESCOBERTA

Darjeeling Limited
é uma comédia absolutamente magnífica e uma obra de arte verdadeiramente excepcional: isto é certo e não há como negá-lo.


Wes Anderson explora o absurdo e o cómico de situação de forma sublime, articulando magistralmente as mais diversas técnicas, como o slow motion, os zooms e um trabalho de montagem absolutamente brilhante (Andrew Weisblum). A narrativa desenvolve-se com grande fluidez, dando-nos a conhecer a dificuldade e a complexidade de uma irmandade a três, onde há sempre espaço para segredos.
O filme assume a forma de um road-movie visualmente deslumbrante, fotografado com assaz excelência e cheio de cores exuberantes, capazes de captar os cheiros e as essências da Índia. É esteticamente arrojado e inesperadamente perfeccionista: a direcção artística é de um aprumo e bom gosto notáveis; atente-se à cuidada mise-en-scène. A banda sonora é tão eclética quanto soberba e a sonoridade das canções alia-se genialmente à inspirada e elegante arte de filmar do realizador.

Grandes desempenhos de Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman... ou mesmo de Natalie Portman, na curta-metragem Hotel Chevalier, que tão bem inicia e complementa a obra.

O resultado de tão alucinada história é fascinante em todos os sentidos. It's the same old story, It's the same road trip, mas Wes Anderson reinventa-a à sua maneira e concebe, por meio de uma arquitectura irrepreensível, uma obra única, sólida e em tudo admirável.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

MAGNOLIA (1999)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: Magnolia
Realização: Paul Thomas Anderson

Principais Actores: Julianne Moore, Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, William H. Macy, Philip Baker Hall, John C.Reilly, Melora Walters, Jason Robards, Melinda Dillon

Crítica:

O DILÚVIO DO PERDÃO

We may be through with the past,
but the past ain't through with us.

De uma orquestração magistral que se estende do âmago a cada uma das suas pétalas, Magnolia é a obra de arte perfeita.
É daqueles pedaços do éter que desabrocha em nós o mais profundo e sentido encantamento. O seu alimento é, somente e apenas, um dos melhores argumentos da História do Cinema, personificado por um elenco todo ele sublime. E o seu Deus Criador é um só, de génio puro e de nome Paul Thomas Anderson.

Magnolia fala-nos, de forma arrebatadora e com a maior eloquência, da dor e do caos universal resultantes do ressentimento e da quase natural incapacidade humana para o perdão: porventura, a mais intemporal das doenças que afecta e corrói a nossa espécie. É por isso que Magnolia está tão próximo de nós, quiçá em cada um de nós. Perdoar é, tantas vezes, um milagre tão impossível quanto um milagre bíblico; e dessa impossibilidade, a vida sai claramente a perder, fingida e ferida por detrás de máscaras e de orgulho. O arrependimento mata: é o cancro da psique. Life ain't short, it's long, it's long, God damn it! Não admira que o velho e impertinente Earl Partridge, às portas da morte, admita:

Don't ever let anyone ever say to you, 'You shouldn't regret anything.' Don't do that, don't! You regret what you fucking want! And use that, use that, use that regret for anything, any way you want. You can use it, okay?

Aliás, às tantas, as personagens de Magnolia parecem precisar todas de um psicológo ou de um psiquiatra: umas arrependidas e outras cheias de amor para dar, vítimas de uma incomunicabilidade que tem tanto de coincidência como de culpa humana. Como lutar contra a incomunicabilidade? Falando, com a verdade de nós próprios. E eis meio caminho percorrido para curar a doença e ser feliz.

A câmera de P. T. Anderson filma com uma mestria irrepreensível, que nem um olho irreverente e implacável, assaz dinâmico, que se espelha em todos os planos meticulosos, nos zooms, na perseguição deambulatória pelos corredores do estúdio de televisão, nos planos estáticos ou na grande confluência estética ambicionada e por demais conseguida. Magnolia é, ainda, um grande exercício de manipulação: na excepcionalidade e originalidade do argumento (na narração do prólogo e do epílogo ou nas informações meteorológicas apresentadas, que denunciam uma forte personalidade autoral), na tão planificada realização (a fluída e rápida apresentação das personagens ou a cena em que as personagens, em conjunto, parecem sair da diegese para cantar o tema Wise Up) ou na montagem prodigiosa de Dylan Tichenor. Outra coisa impressionante e na qual P. T. Anderson triunfa completamente é a direcção de actores: Julianne Moore, Tom Cruise, Philip Saymour Hoffman, William H. Macy, Philip Baker Hall, John C. Reilly, Melora Walters, Jason Robards, Melinda Dillon; todos perfeitos nos seus papéis, servindo os propósitos do drama, da comédia e/ou da tragédia.

A fotografia de Robert Elswit, com os seus tons soturnos, serve a magnificência do projecto; projecto que vive também - e tanto - da banda sonora: os momentos musicais a partir das canções de Aimee Mann são inesquecíveis assim como o eterno Also Sprach Zaratustra, de Richard Strauss. A persistente e tensa composição de Jon Brion tem, é evidente, um uso bastante singular: é obssessivo e por vezes massacrante - o que já se tornou uma marca autoral na obra do realizador.

Magnolia é, pois, a sinfonia operática da condição humana, a jeito de turbilhão de emoções, com um final de redentores efeitos catárticos. Sometimes people need a little help. Sometimes people need to be forgiven. E, às vezes, os milagres acontecem mesmo. This happens. This is something that happens. Perdoar é então possível. O mau tempo passa e o sol raia novamente.

Conslusão? Uma obra monumental. Um dos melhores filmes de sempre.

2ª Edição: 10 Breves Perguntas (2)

Continua a 2ª Edição do 10 Breves Perguntas.

Desta vez... João Valverde ou Red Dust, autor do blogue Os Filmes, aceitou o convite do CINEROAD para responder a 10 breves questões com 10 breves respostas.

1. O Melhor Filme desde 2000: The Dark Knight
2. A Banda-Sonora da Minha Vida:
Merry Christmas, Mr. Lawrence

3. Um Amor de Infância: Nuovo Cinema Paradiso
4. Um Filme de Animação: Nenhum.
5. Uma Comédia: It's A Mad Mad Mad Mad World
6. Filme-Fenómeno cujo Mediatismo não compreendo:
Forrest Gump

7. Tantos detestam. Eu adoro: Police Academy
8. Um elenco: The Godfather
9. A Melhor Fotografia que conheço: American Beauty
10. Já mudei de ideias sobre este filme: Nenhum.

Um muito obrigado, João Valverde.

Compare as respostas dadas por todos os convidados até ao momento: AQUI

As mesmas 10 questões serão respondidas por um novo convidado especial. Até lá!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

FOME (2008)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Hunger
Realização: Steve McQueen
Principais Actores: Michael Fassbender, Stuart Graham, Helena Bereem, Brian Milligan, Larry Cowan, Liam Mcmahon

Crítica:


CONVICÇÃO E DESOLAÇÃO

Em Fome - primeira e sublime incursão de Steve McQueen na realização - não há esperança, não há palavra, apenas determinação por um ideal. Por isso, os prisioneiros republicanos da prisão de Maze sujeitam-se, em silêncio, à brutalidade, à humilhação e à violação dos direitos humanos. São vítimas dos mais hediondos e monstruosos actos.

There is no such thing as political murder, political bombing or political violence — there is only criminal murder, bombing and violence.

Tanto para os criminosos, como para os polícias munidos de espírito... o tratamento é de choque. A experiência revelar-se-á especialmente repugnante e de difícil digestão, porventura, para o espectador: o argumento foge ao carácter explicativo e é extremamente frontal. O realizador não se coibe de mostrar - com tanta frieza quanto sensibilidade - a violência extrema à qual os reclusos são submetidos. Sem compaixão, a tortura deteriora toda e qualquer possibilidade de dignidade. Animais, apetece chamar-lhes. Os últimos minutos da obra, quando o voluntário Bobby Sands assume a liderança do motim e avança com a greve de fome, são de absoluta deterioração física e moral. O que já era inquietante ganha contornos de horror e a entrega de Michael Fassbender é de corpo e alma. A renegação da vida por um ideal, ainda que por um actor, torna-se assustadora e arrepiante.

Magnificamente fotografado, montado e filmado (destaque para as subtilezas entre o focar e o desfocar e para aquele longo e conversado plano de 20 minutos), Fome revela-se um duro e desconcertante pedaço de arte, capaz de confluir, com rara mestria, realismo e poesia.

Muito bom filme.

O ESTRANHO MUNDO DE JACK (1993)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Nightmare Before Christmas
Realização: Henry Selick

Filme de Animação

Crítica:

HALLOWEEN
EM VÉSPERAS DE NATAL

Maravilhoso. A partir das ilustrações e do génio criativo de Tim Burton, chega-nos um esquisito, bizarro, grotesco e
negro universo, um deleite visual de assombro e um musical na sua mais pura essência: O Estranho Mundo de Jack.

Henry Selick lidera uma equipa de artistas do mais alto gabarito e de incrível perfeccionismo, nesta concretização ambiciosa e visionária. Das personagens extravagantes ao arrojo dos cenários e dos adereços, da planificação em storyboards à concepção dos bonecos e à animação dos mesmos: a obra veste-se de originalidade e de excelência. E a banda sonora de Danny Elfman? Conseguirá alguém negar a sua extraordinária e assustadora sonoridade e o seu lugar entre as melhores bandas sonoras de todos os tempos?

Com O Estranho Mundo de Jack, o stop-motion pisa, pois, um novo mundo e um novo lugar na História: não só como técnica, mas também como subgénero no cinema de animação. Um clássico instantâneo.


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CINEROAD ©2020 de Roberto Simões