domingo, 17 de novembro de 2013

A ESSÊNCIA DO AMOR (2012)

PONTUAÇÃO: BOM
★★
Título Original: To the Wonder
Realização: Terrence Malick
Principais Actores: Olga Kurylenko, Ben Affleck, Javier Bardem, Rachel McAdams, Tatiana Chiline, Romina Mondello, Tony O'Gans, Charles Baker

Crítica:

OS FANTASMAS DO AMOR

There is a love that is like a spring coming up from the earth.
The first is human love, the second is divine love and has its source above.

Da arte de maravilhar parte o pensamento e a questão. We climbed the steps to the wonder. Qual câmera, eles deambulam, vagueiam, questionam. Eles amam, eles sofrem por amor (qual câmera, poderia acrescentar). Love makes us one. I in you. You in me. Malick continua a sua demanda introspetiva e metafísica, imerso numa dimensão lírica e espiritual. Amamos? Somos amados? Como é o matrimónio aos olhos de Deus, o que representa, o que significa. Porque não casa ele com ela se a ama? If I left you because you didn’t want to marry me, it would mean I didn’t love you. A insegurança de amar outro alguém, o medo de perder esse amor, o estar perto e o estar longe. O turbilhão emocional em que se compreendem os momentos de ternura e felicidade em oposição aos instantes de angústia e incerteza. A discussão como cúmulo dos continuados desabafos interiores, não exteriorizados e não comunicados, como almas desencontradas do diálogo.

O espetador ouve o grito num sussurro, enquanto vislumbra a poesia da luz, do sol e da água, das folhas e do vento. Flui a música clássica. Cada filme de Malick é um pedaço de cinema de embalar. As cenas são quase mudas da palavra entre personagens - o que acentua o efeito de estranheza - perpetuando-se a perspetiva ou as perspetivas nesse privilégio, exclusivo de Deus e do espetador, que é escutar.  

A Essência do Amor é o melodrama de um casal, mas é mais o de Marina (Olga Kurylenko), que deixa a Europa com a filha pela difícil adaptação na América, sobre a qual recai o peso de uma culpa que não é só dela, num exacerbado romantismo. Quase não temos acesso ao íntimo de Neil (Ben Affleck). É uma escolha deliberada de Malick, se bem que se coaduna com a aparente passividade da personagem, que não sucumbe ao sacrifício. Talvez por isso a personagem do ator pareça não ganhar especial dimensão. Mas o seu silêncio inquieta-nos. E mesmo quando este se aventura numa paixão passada, com a personagem de Rachel McAdams, a voz que ouvimos é a dela. Do you know what you want? A voz masculina mais presente é a do padre Quintana, distanciado da denúncia dos desejos carnais, expõe as dúvidas da sua relação com Deus e lembra Cristo: We fear to choose. Jesus insists on choice. The one thing he condemns utterly is avoiding the choice. To choose is to commit yourself. And to commit yourself is to run the risk, is to run the risk of failure, the risk of sin, the risk of betrayal. But Jesus can deal with all of those. Forgiveness he never denies us. The man who makes a mistake can repent. But the man who hesitates, who does nothing, who buries his talent in the earth, with him he can do nothing. A interpretação de Jesus ecoa por todas as histórias, espelha-se nas escolhas e ânsias dos amantes, na esperança da reconciliação. I saw you. Again.

A Essência do Amor brilha, plenamente, no virtuosismo da montagem e do movimento de câmera, na beleza assombrosa da fotografia (Lubezki), porém enfraquece algumas das suas potencialidades narrativas no carácter acentuadamente difuso que o estilo do autor aqui atinge e impõe. Um pouco mais de estruturação beneficiaria o argumento, solidificando a união dos fragmentos e norteando a inquietação filosófica.

1 comentário:

  1. Bela crítica. De resto, é isso, temos Malick novamente, para o bem ou para o mal (segundo alguns). Pessoalmente gosto muito deste filme, uma espécie de viagem mais íntima, mais terrena, mais dramática, mais familiar e mais real (de realidade), ao contrário de The Tree of Life, se quisermos comparar, em que se dava mais a glorificação da vida e do universo. Duas obras diferentes, mas em que se percebe claramente a evolução, o seguimento de uma para a outra, onde a compreensão por certos temas por parte do realizador são evidentes. Da origem e do universo à terra e à verdade.

    Cumprimentos,
    Jorge Teixeira
    Caminho Largo

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