sexta-feira, 16 de agosto de 2013

TIO BOONMEE QUE SE LEMBRA DAS SUAS VIDAS ANTERIORES, O (2010)

PONTUAÇÃO: RAZOÁVEL
Título Original: Lung Boonmee Raluek Chat
Realização: Apichatpong Weerasethakul
Principais Actores: Thanapat Saisaymar, Sakda Kaewbuadee, Matthieu Ly, Vien Pimdee, Jenjira Pongpas

Crítica:

A REENCARNAÇÃO E O DELÍRIO

  O céu não vale o que dizem. Não há lá nada. 
(...) Os fantasmas não estão ligados a sítios e sim a pessoas, aos vivos.

O cinema de Apichatpong Weerasethakul desafia muitos limites: os da compreensão, os da imaginação e, não raras as vezes, os da aceitação e os da paciência. Em boa verdade, o realismo mágico que o cineasta tão incessantemente explora (tão íntima e profundamente enraízado na crença budista da reencarnação) coloca em desconcertante e frontal coexistência - e inequívoco diálogo - o plano sobrenatural (os fantasmas e as criações fantásticas) e o real quotidiano das suas personagens. Como se tudo fosse realidade. 

As sequências são especialmente morosas e, na maior parte delas, não acontece nada. É como se o tailandês fizesse o seu filme com fragmentos de vazio, com os intervalos entre as cenas em que realmente se passou alguma coisa. Não obstante - e aí resíde o fascínio dos seus filmes - parece sentir-se uma omnipresença inexplicável, indefinível... com toda a certeza religiosa e espiritual. Muitos dos planos são afastados, pelos quais damos connosco como observadores, enquanto as personagens (por sua vez) observam e meditam a envolvência. A selva verdejante, a noite e o dia, os grilos e as cigarras... uma natureza gritante existe no vazio. Contradição. Enquanto Boonmee se perde em sucessivas alucinações, aproxima-se a morte. A doença e os fantasmas do passado chamam-no para a viagem. A doença apodera-se do filme - tropical malady - e, às tantas, tudo é delírio, tudo é exótico e estranho. Há quem lhe detecte alegorias - quão relevantes serão elas para justificar a sua orgânica? Não sei. A verdade do filme parece-me tão inatingível quanto o significado da existência.

Unânime, a sentença, de que o filme é uma experiência daquelas; embora nunca consigamos explicar ao certo que experiência é. Ficará algures entre o encantamento e o bocejo. Excitante, excitante só mesmo o orgasmo da princesa com um peixe entre as pernas. Essa sim, cena de mestre, para a qual vale a pena estar conscientemente acordado. E ainda dizem que não há originalidade no cinema.

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