sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

AS PONTES DE MADISON COUNTY (1995)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Bridges of Madison County
Realização: Clint Eastwood

Principais Actores: Clint Eastwood, Meryl Streep, Annie Corley, Victor Slezak, Jim Haynie

Crítica:

TEMPO PARA AMAR

This kind of certainty comes but once in a lifetime.

É sempre tempo para amar. É sempre tempo para sermos nós próprios. Mas tempos houve em que os constrangimentos sociais ditavam uma total entrega da mulher ao marido, aos filhos, à casa e à família. As Pontes de Madison County é a história de Francesca, uma dessas mulheres: dona-de-casa casada e de meia idade, aprisionada pelas convenções morais do seu meio, desejou um dia um outro homem, desejou partir e ser livre pelo mundo fora. Desejou ser genuína, autêntica, sincera... consigo mesma. Não que odiasse o marido, não que não amasse cada um dos seus já crescidos filhos... amava-os e reconhecia no marido notáveis qualidades. Porém, nunca sonhara viver entre os verdes campos de Iowa. Sonhara, simplesmente, com uma outra vida, que lhe despertasse as paixões da juventude, que lhe refrescasse o sentido de viver. Até que ponto tem uma mulher esse direito? O de sonhar com a mudança? Ou o de arriscar a verdadeira mudança? Entre a aceitação e a felicidade... qual a escolha a fazer e quais as derradeiras consequências?

We are the choices we've made, Robert.

Aquela cena em que, à chuva, Francesca reencontra o seu forasteiro e inesperado Robert... do outro lado da estrada... à sua espera... O seu marido regressa e arranca com a viatura e Robert arranca à sua frente... O semáforo... a luz verde... a vontade de partir... a indecisão, aquele angustiante aperto no coração partilhado com o espectador... que cena memorável.

As Pontes de Madison County é um romance de uma sensibilidade extrema e um drama doloroso e acutilante; de partir o coração, verdadeiramente. Clint Eastwood filma sem artifícios e com movimentos de câmera simples ou subtis. O poder da narrativa provém, sobretudo, do argumento (Richard LaGravenese, a partir do romance de Robert James Waller - que diálogos incríveis!) e das magníficas interpretações. Eastwood actor - e quanto a esta questão, a minha opinião pouco oscila de filme para filme - é competente quanto baste, ainda que sempre igual a si próprio. Aqui, a sua personagem chama-se Robert Kincaid, mas podia chamar-se Bill Munny, Frankie Dunn ou Walt Kowalski, consoante a sua fase da vida. Eastwood actor não é camaleão, não existem nuances consideráveis que distingam as suas construções, se é que podemos falar em construções de personagem. Contudo, as suas personagens são sempre autênticas e isso basta para jamais ponhamos em causa as suas competência e eficácia. Já Meryl Streep, considero-a uma das maiores actrizes de todos os tempos. E a sua Francesca é absolutamente extraordinária. Nos gestos, nas expressões, nos olhares, na dicção... As capacidades e potencialidades da sua arte de representação são imensas. Fenomenal desempenho, o seu, neste tocante, intimista e inspirador pedaço de cinema, formalmente irrepreensível.

Veredicto final? Um marco incontornável do género, seja ele o romance ou o drama. Um dos melhores filmes americanos dos anos 90. E, sem dúvida, um dos melhores e mais belos filmes jamais realizados por Clint Eastwood. Tão triste quanto apaixonante.

9 comentários:

  1. Eu vou um pouco mais longe do que tu e considero mesmo este filme o meu preferido dos anos 90. Quanto ao Clint, só não vê quem não quer, e é isso sim, autenticidade. Nem todos precisam ser camaleões. E para quê quando existe tamanho humanismo em cada representação deste actor?

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  2. É um dos filmes românticos de que mais gosto. Tenho pena de não o conseguir ver amiúde, ou seja, está na hora de procurar o seu DVD na loja :)

    Abraço e Boas Festas!

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  3. Até que enfim que viste este filme, Roberto. Mas, como já tem acontecido, não reconheces as verdadeiras obras-primas quando elas te passam pelos olhos.
    Talvez com o tempo, quem sabe?

    O Rato Cinéfilo

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  4. Concordo contigo Roberto, é um grande filme mas não chega a obra-prima.

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  5. JOÃO GONÇALVES: Foste precisamente tu que me despertaste para este clássico dos anos 90, e ainda bem que o descobri. Adorei, sinceramente.

    SAM: Instantaneamente, também se tornou num dos romances que mais apreciei em cinema. Não será por acaso. O DVD ou Blu-ray será obrigatório, penso. Festas Felizes!

    RATO: Tens razão. Até que enfim. E que pérola! Não a considero uma obra-prima, mas lá que é sublime, lá isso é. Felizmente, os nossos juízos não são coincidentes e nenhum de nós - como ninguém - é autoridade para proclamar verdades absolutas. Ficam os desejos de Festas Felizes ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD – A Estrada do Cinema «

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  6. Plenamente de acordo, um belíssimo filme. É Eastwood no drama mais romanceado, e como se sai tão bem! :)

    Já o disse, não o considero o melhor filme da sua carreira, acho os seus filmes da última década mais completos ou mais requintados. Aqui tem-se como destaque, a meu ver, a fotografia, o argumento e a enorme interpretação de Streep.
    Na realização o trabalho é muito bem feito, tanto que na maioria das vezes é nas expressões, no tempo, no silêncio, na pausa que a narrativa evolui e se expande. Para isso muito contribui, mais uma vez, Meryl Streep.

    A cena da chuva no final, que referes, é a minha preferida, muito emocionante.

    abraço

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  7. JORGE: Poderá não ser o melhor, mas um dos melhores é com certeza. Em termos de requinte, pouco ou nada tem a menos que os produzidos e realizados na década 2000.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  8. Vamos lá ver, eu não digo ou pretendo dizer que este Pontes está muitos furos abaixo dos filmes realizados por Eastwood na última década. Considero é que em relação a filmes como Million Dollar Baby, Mystic River, Changeling ou até Gran Torino se situará um pouco abaixo. Mas isto será talvez mais por questões subjectivas do que outra coisa.

    Embora ache que o cinema de Eastwood alterou-se um pouco com o virar do século, também devido à experiência e idade. E podendo ou não considerar-se melhor, eu prefiro os seus últimos filmes de um modo geral (Invictus não se equipara aos restantes e até a este Pontes). Só para realçar que gosto bastante de um outro filme dele, o Unforgiven, que por sinal é da mesma década deste aqui criticado e que esse sim já o igualo aos mais recentes.

    Enfim, com isto tudo sinto necessidade de rever este Pontes de Madison County, talvez com uma revisão passo a gostar mais. Sendo que já gosto atenção. Um filme de Eastwood, para mim, é sempre um regalo.

    abraço

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  9. JORGE: Ou muito me engano ou este filme é daqueles que não me cansarei de ver e rever ao longo da vida ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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